quinta-feira, junho 30, 2005

A NOSSA FALA XII - MARIGADA

A Marigada (ou marigueda)

Nome comum para toda a variedade de fruta, mais ainda se se trata de a ir a gamar , é MAROUVA.
Gabava-se o velho peidorreiro que a ele ninguém lhe gamava a marouva e montou uma choça de pastor debaixo da cerejeira. Ouvia-se a ressonar no cimo dos cabeços a partir da lameira da pinta.
Bardinas por excelência, coiote pete, tôcojoão com seu cão favorito toniche e bruto amola tesouras,filho do ferreiro que aguçava a pedra das agulhas ao maralhal que ia da tasca do fatela até acima com um calhau embrulhado num jornal e vinha com outro estrada abaixo já com a pedra aguçada, eles os três, decidiram gamar as cerejas ao peidorreiro. Era assim que se calejava a malta.
Escaldado também eu fui um dia, não com a pedra das agulhas, mas com uma mata bicho às seis e meia. O meu destino era levar uma bilha de gás ao chicharro, detrás do cemitério. Chovia como um corno, mas a vida tem que se gramar como vem. Quando com o meu carrinho de duas rodas , mas de caixa aberta, a aparar a água, o mouraria me chama de dentro da tasca do fatela: anda cá! então não vês que nos enganámos a contar! Mandei vir cinco copos e só éramos quatro. O fatela diz que o que se manda vir tem que se pagar. Aproveita tu!Anda.
Entrei, mamei o copo da jeropiga e virei-me para ir levar a bilha quando me deparo com um semicírculo: Querias beber e não pagar? Agora mandas vir seis que há-de cair outro! E foi assim.
Escusado será dizer que quando regressei já o mouraria, o marrafa, o bites, o prim e puta maluca, estavam com uma bácora na cabeçorra que mal se tinham. O bites já cantava o fado e o mouraria acompanhava com palmas…
Bom… mas as vedetas da história são outras: coite pete, toco João e amola tesouras,bruto, principalmente se encorpava uns brandes.
Por volta da meia noite, já o café do adro fechara eles aí vão. Ouvem o peidorreiro e avançam…trepam à cerejeira, enchem bem os bolsos e, caladinhamente desceram .O toco, no entanto, volta atrás e enche o peito do peidorreiro ressonante com as cerejas. Abalaram e foram comer as cerejas para o batorel do peidorreiro, onde cuspiram os caroços.
Naquele tempo as ruas de aldeia não atordoavam com os barulhos das moto4 e começam a ouvir uns gritos. Aguçam os ouvidos e conferem que se trata do peidorreiro a berrar que nem um capado acusando tudo e todos em linguagem não reproduzível.
Riram a bandeiras dspregadas e lá se foram a dormir com o papinho bem feito com as cerejas do peidorreiro.
Mal amanheceu ele aí vem, nariz adunco, olho remelado e cara por lavar, camisa com nódoas de cereja e tamancos de pau que se ouviam a calcorrear as poucas pedras entretanto existentes ali ao pé do cruzeiro do cavacal. E vociferava: cabrões dum corno, roubaram-me as cerejas e ainda por cima vestiram-me com elas. Se eu sei quem foi parto-lhe a puta da fronha…, filhos duma grande…gatunos dum cabrão, gandulos dum filho do diabo, não houvesse um raio que lhes partisse as patas àqueles bandidos dum corno, galegos, se os caço…
Anda que às MARIGADAS já não mas mamam: vou lá a pôr um chocalho reboleiro em cada parnada, e deixo o trabuco carregado com zagalos e chapo-lhes a alma. Limpo-hes o sebo ali mesmo. Raios me partam se não lhes afundo o bandulho com um tiro.
Toda a rua se levanta a ver o que passa e o peidorrreiro lá contou e recontou a história vezes sem conta…Acabava sempre d mesma maneira: “anda que às MARIGADAS, já não mas mamam”.

7 comentários:

Anónimo disse...

Eu que pensava ser difícil fazer melhor, do que aquilo que tens feito....bem me enganei!!!

Anónimo disse...

Sobretudo porque a escrita do Chngoto é inigualável, pessoal e intransmissível.
É neste tipo de comentários ou textos, sustentados pela aprendizagem académica e apoiados pela constante busca do saber, que o meu amigo Lapaxeiro atinge o exponencial de dissertação que lhe permite tranmitir, para quem o lê, um pouco da sua personalidade e da sua grande capacidade técnica.
Sinceramente é este tipo de leitura do Lapaxeiro aquele de que mais gosto.

Anónimo disse...

tá a ficar com piada...quero mais..

Anónimo disse...

Lapaxeiro, lá está, não há dúvidas. Basta querer, ver a luz, tipo aquele salto que eu e tu fomos de forma sugestiva, levados a fazer na tropa; o salto para o desconhecido. Este é só o melhor de muitos textos teus que vou ler.
Agora no entanto, quando resolvi ler este Post do Cangoto em particular, ( já li os outros )tinha como objectivo, apenas isso ler o post, por isso mesmo logo nos encontramos.
A razão de ter resolvido ler o post só agora, tem a ver com os meus turnos mas sobretudo, com o costume, que tenho tambem com a revista Visão, ou seja, guardar aqueles que desconfio serem os melhores textos para o fim da noite. Quando já nada nos consegue seduzir, a não ser um bom texto. É pena a revista que por acaso esta semana ainda não comprei e que tem muito maí folhas, não tenha assim tantos textos com a qualidade, por exemplo deste Post.

Anónimo disse...

Bem, na Disney, tambem há por exemplo o Super Pato (Donald), o Morcego Verde (Zé Carioca)e aquele que mais me fazia rir o Morcego Vermelho, o Peninha. Mas deixando os quadradinhos, lembrei-me de outra literatura, Fernando Pessoa e o seu maravilhoso Ricardo Reis, por exemplo, mormente eu pessoalmente, gostar mais do B. Soares e do seu Desassossego.
Desassossegar de forma honesta com comunhão, será uma das virtudes deste Blog, de forma que cumprir esse desígnio parece-me bem. Eu lá vou fazendo como sei e posso, mas claro, o Mundo é redondo e blá blá blá.
Um heteronimo, enquanto alienação do eu, dá trabalho não é fácil viver com ele em harmonia, sem escorregar. Exige, uma desconcentração concertada, para além do Nicola ou do Martinho, digo eu. Vem isto a prepósito, porventura, da apresentação que esta noite teve lugar na Corte. "Sede" de alguns Lacaios que habitam em terras do Senhor Duque, para os lados da Xendrolandia. E o motivo? bem, reconheço-me algo curioso, com a certeza porém de que nós aqui na floresta que cerca o Xerife lacaio e o usurpador João, estaremos mais preparados do que ontem, para festejar o regresso de um novo e católico Ricardo. Mesmo que as cruzadas se prolongem ou eternizem, tipo fita de Franco Zefirelli. Por favor não deixem de ir ao cinema.

Pratitamem disse...

Este Post anterior, parece o puto Pratitamem a fazer pra vida--

Pratitamem disse...

Queria dizer, os dois últimos...