segunda-feira, dezembro 19, 2005

A NOSSA FALA XXXIX - CAFONES

Desde garoto que simpatizo com a cooperação transfronteiriça. Do outro lado da fronteira eu via um mundo novo, uma espécie de mundo”civilizado” onde havia mais de tudo. Numa primeira fase, este tudo resumia-se a chumbo para a pressão de ar, caramelos e torrões de Alicante. Numa segunda fase o interesse estendeu-se às “chicas guapas”. Mais tarde havia de chegar à cultura propriamente dita - incluída a componente gastronómica, evidentemente -, mas só muito mais tarde.

Lembro-me de uma vez que eu, mais o Montanhaque e o Molezas, garotos ainda imberbes, fugimos aos velhos, providos de duas latas de atum, uma cebola, um saquinho de plástico com duas pitadas de sal e 5 tomates dos grandes para o almoço, e partimos de bicicleta à descoberta de Valverde del Fresno, (inconscientemente) imbuídos de espírito cooperante. O Montanhaque pedalou numa bicicleta, tipo último modelo antepassado da TT, com volante direito, o Molezas deslizou numa de corrida, levezinha como uma pena e eu, tive de me esforçar a dobrar para os acompanhar na velha pasteleira que roubei ao meu pai e que era pesada como um corno. Escusado será dizer que a amarela não foi minha, mas subi ao pódio na mesma.

Já havia Tratado de Roma, mas nada de Mercado Único, Espaço Schengen, e outras futurices. Vá lá! quer os Guardas Fiscais, quer os Carabineros não nos consideraram perigosos e deixaram-nos passar, contra entrega do Bilhete de Identidade, devolvido à volta. Não podiam eles adivinhar que o objectivo da nossa incursão em terras de Castela era mesmo o contrabando e estava relacionado com motivos “bélicos”: comprar chumbo para a pressão de ar. Para os ludibriar, acondicionariamos as caixas de chumbo junto ao pirilau, bem seguras pelas cuecas, tendo eles visto apenas os caramelos. Uma vitória estrondosa sobre as forças repressivas da liberdade de circulação de pessoas e bens, e da cooperação transfronteiriça. A preocupação no sucesso da missão impediu-nos de pedir um golo de água às autoridades, apesar da sede que nos matava. Daí que logo que saímos da sua vista, atirámo-nos ao primeiro poço que descobrimos. Era estreitinho, não havia burra (picota, cegonha) e a água estava a 1 metro da borda. Valeu uma lata de salsichas velha e dois atacadores atados um ao outro. Confirmada a potabilidade da água segundo o método do cuspo – cuspia-se para a água, se a saliva dispersava, era boa, se permanecia junta, não convinha beber), bebemos sofregamente, não nos importando nada com a cobra que correu a esconder-se no fundo quando nos sentiu.

Dois ou três anos mais tarde, haveria de ser em Valverde del Fresno que eu entraria, pela vez primeira, numa discoteca, daquelas comédado, globo espelhado no centro da pista de dança, música muito alta, fumos, jogos de luzes e... chicas guapissimas. Encostado ao balcão, com ar displicente e uma Aguilla na mão, ninguém desconfiou. O ar do rapaz era o de tipo batido naqueles ambientes. O único problema que havia tinha a ver com o horário de funcionamento da fronteira. Como encerrava entre a meia noite e as 8 da manhã, ou os cooperantes portugueses abandonavam o barulho das luzes por volta das 11 e meia da noite para estarem no rio torto um minuto antes da meia noite – o que, convenhamos, não dava jeito nenhum, sobretudo se a chica guapa também estava interessada na cooperação transfronteiriça – ou, então, só de manhã é que se poderia voltar a pisar território luso. Naquele tempo, sem telemóveis com roaming activado, a maioria dos pais portugueses não compreendiam o alcance da cooperação transfronteiriça.

E eu simpatizava mesmo muito com essa coisa da cooperação transfronteiriça. E tinha pena do meu avô, cuja experiência era bem mais dura do que a minha. “Naquele tempo”, repetia ele, “conhecia eu melhor os caminhos para a Espanha de noite do que agora os conheço de dia”. As histórias dele, no que toca ao tema da cooperação transfronteiriça, eram todas de contrabando, sempre à volta de carregos pesados, de café, sapatos, borracha, de andar toda a noite, à chuva e ao frio, sempre a fugir aos carabineros e aos guardas fiscais que lhes podiam confiscar a mercadoria ,etc, ou seja, a cooperação transfronteiriça do meu avô não incluía nem caramelos nem discotecas, muito menos chicas guapas. Felizmente, as coisas evoluem.

Pioneira nesta modalidade arcaica de cooperação transfronteiriça por via do contrabando era a MariPortas. Sim, uma mulher, dir-se-ia mesmo, uma mulherona. Em portunhol precisar-se-ia: uma mulher de CAFONES. Alta, pernas ligeiramente arqueadas, voz grossa e vocabulário viril, manteve-se sempre solteira mas, consta, com experiência. MariPortas era inseparável do seu cão, apropriadamente baptizado de Fiel, que alimentava a ovos estrelados. Para além da cabrada que pastoreava, Maria Portas dedicava-se igualmente ao contrabando e fazia ver a qualquer homem, no volume e peso do carrego, no andar ligeiro e até nas artes de contornar a vigilância das autoridades. Contam-se duas peripécias.

Um dos estratagemas habitualmente utilizados pela MariPortas era aplicado quando contrabandeava calçado. A “importação” era feita em duas viagens, na primeira só entravam alpargatas do pé esquerdo, completando-se o par na segunda viagem. Na hipótese de ser apanhada numa das vezes, a preocupação de MariPortas era mínima, porque sabia que, em leilão da mercadoria apreendida, só ela poderia estar interessada em comprar 50 alpargatas, todas do mesmo pé.

Outro estratagema igualmente digno de nota, destaca-se pela simplicidade. Mari Portas vinha sempre à frente a bater terreno. Se calhava ser apanhada, coisa rara, armava um espectáculo de gritaria e correria por entre codeços, estevas e azinheiras, obrigando os guardiões da fronteira a mobilizarem-se todos para a encurralarem e confiscarem o carrego. Enquanto ela jogava ao esconder e achar com os guardas fiscais, o grupo que trazia a soldo rodeava o perímetro e escapulia-se em segurança. E que trazia o carrego da MariPortas? Palha.

Esta mulher era de CAFONES.

18 comentários:

Anónimo disse...

E Cafones deriva do castelhano "Cogones", es verdad? Creio que todos conhecem a palavra, por isso vou-me abster de fazer aqui a tradução para o português.

Anónimo disse...

Para todos um Feliz Natal e um Ano Novo pleno de coisas boas!

Anónimo disse...

Temos que ter o nosso chengen, nem que seja esse promenor, de eu ter uma palavra só u ma que só eu conheço. Eu vomito esse acoredo, esto l
a, passam todos os dias, ás vbezes cpom fom,e Ficam. Esses são os quew alguem pára. Famos falar de acordos! Esse Conheço Letra a Letra, melhor do que ninguem ( até juridicamente falando. ) mas a estória da bicla deixou-me de rastos. Nós temos o mundo e depois ficamos grandes e cheios de perconceitos ou pre. Como vos abtecer e ewu porra tenho acho uma ooinião moderada. Que cága em tudo. è só a minha opnião. Tenho uma opinião pessoal e máis nenhuma. Foda-ss.

Quando sew quizerem swetir capacitados, para "sentrir" o "schgen" é necessário sentir e escrever esse "espáço" todos ops dias,. nem eu sei o que isso é! só sewi que a aplicação, é tipo alçapão, isto era uma piada, á luis. A viajem G tipo velo. da luyz. Mais a tua me mória, fiquei, KO. Mas iiritado, Quiandop se fez luz, na minha viagem, vi, tinha aquilo lá gravado, deve est´+ar a penssar que eu tô no fim. Não nada disso. Prá i trinta Km, pra chegaR lá, Deu-me a volçta ao toutiço, como uma vez li de um sábio. Não sei o esforço, mas deu-me cabo do toutiço. Qualquer dia levas uma Ch8mbada.Não habia necessidade, mas a RFM, parece que ouviu, canta a nossa libewrdadew, entre as estevas, e cantamm, terr am,igos, como tu . é a sorte dos homems de bemn.

Anónimo disse...

O Pratitamem, Mesmo Amsterd~
ao saide, è posterior, n~
ao digas nada ao pratitamem, mas esse ésse ´+e a uiltima tristesa Schengen!este nome tu não sAbes, depois, alguem bufo. Há um gajo agora que matou o piçha de aço?! é o tomates de Chumbo? Quem È?

A raça dele já não sei? È mau Terrivel.

Anónimo disse...

Fica a quwestrão próisa leigos, eu voto amesterdão o lapaxeiro, vota outra cidade, esse pais não se importa eu também não não. Estou a ouvir. Radio Macau.

Anónimo disse...

O Karraio tinha esta guardada, digo eu , ainda do tempo dos desastres nucleares! certo é que a tinha guardada, Eu também, guardo, mas, ele foi tewrrivel, foi máu, fez-me, saber que também é meu Guardador de contos, tipo o gajo da jANGADA, DO nosso Oitabo, ano. Nunca acabei o livro, nunca soube onde acabava sa jangada? nÃO A de pedra nunca vou ler. Passaram tantos anos, mais de vinte e o karraio, ´faz cheque mate. Fica-lhe bem, Eu fico Sentido, Fico satrisfeito. Sinto as minhas lágrimas com o sal no ponto.

Anónimo disse...

Qundo li esta revelação, do tempo lindo, dois dias dezoito, no meu7 caso, vi a corage,m, de bispos o sabor de pipos de vinho e a marsia de zés do adro, senti a diferênça, dfo onor, e o criticar, puro? do meu colega, quem vai gganhR, Sinto um alivio táo grande como tu, o que tu Quizeres, eu alinho, Já a seguir. Os americanos o Qêe? O Karraio, neste momento da minha vida, é máis um dos meus amigos, sempre foi isso, Neste momento, Claro é natal, mais um. Apenas isso. Não a credit~´ao, leia, o Post.

Anónimo disse...

A Primweira vez que corri a estrada se Salama"m"ca a conduzir, no meu primeiro carro R 5, foi para assistir ao Marter do Karraio. Como semprwe cheguei depois de 100K á abrir atra"z"ado, mas a tempo.

Anónimo disse...

Se eu quizewsse, largar este peso do, w ´pedia a quem? pois é! e tu pedias a quem?

Anónimo disse...

Tenho uma ideia, a Xendro é rapariga, para dizer algo, depois de almoço, digo eu.( á noite o acesso á net., deve estar condicion"ado", digo eu.), ou então tem que dár comer aos câes.

Anónimo disse...

Hoje apetece-me ser politicamente correcto. Um OK sentido pro meu amigo Karraio.

Anónimo disse...

Olhe que não olhe que não.

Anónimo disse...

Sempre pensei trocar impressões, sobre a amizade e os acordãos, máis as decisões da comissão e as recomendaç~´oes do conselho e por ai fora, mas pronto, fica pro Natal seguinte, antes ainda espero, claro! Em qualquer dos casos um Santo Natal e até breve amigo Lapaxeiro.

Anónimo disse...

Mas quem é que está preocupado, nisso ó "Changoto", não tradusezs, e eu só sei latim, inglês e françes. Detesto os Chinês, mentira, gosto dew todos. e Depois é isso que o cangoto disse, naão sei se ouve Antena I, Uma Senhora de 70 anos?, Dona, responsável pela lingua Portuguesa, em São Paulo, Pelo Estudo de Cam~oes esteve em Portugal Há dois meses. Identifica.
e claro estou a pensar em mim, mas hoje, como sempre, tiro o chapeu. A ti.Sempre.Claro.

Anónimo disse...

Tenho não bastAS vezes, em sentidos opostos, curiosamente, com relação, idêntica, até no grau, desagrados, bem imcompreensiveis, no que diz respeito, a pessoas que eu amo tanto como que tudo, mas que em resultado é basso. Não somos donos de nada, bem basta a nossa vida, ás vezes bem complicada ( esta frase todos adoram), mais um dia pra esque~er, é facil. Isso é simples, básico, mas o amor fraterno é o unico sem acento, que já fez tudo, que é possivel em todas as Guerras, isso é garantido, logo é um amor que fica e que nada pode mudar. Porque é amor sem sentido. ( sem principio nem fim ), depende só da nossa resistência a este mundo. E ele há melhor coisa do que um mano. Não sei. ( só se for mulher e filhos, mas é só diferente.Talvez melhor, ou diferente.)

Anónimo disse...

Fui comprar tabaco e beber café, detesto esse acento no caffe, mas prontros, sem stress. Porra. Já não vos conto o que vi. Claro eu no maximo estou a ser mau e o bom, gosto dos dois, entre o Lapaxeiro e a Manela, não conto, nada a "ningum", a opção é sempre nossa. Fica, Vai, Volta, sei Lá. Fui comprar tabaco e bebi café, eu é que sei. Vai haver passai. ano. Eu é que sei.

Anónimo disse...

não, não estive a ouvir os Dires, juro, não me lembrei. Mas não é necessário está no disco rigido, e foi gravado nos nossos corações, na aparelhagem que o meu irmão tó nos deu. Claro que era a falar de Vós, nem sempre, porque nós também, falava-mos de nós, sobre vós, e agora tou a ouvir, e por muito, que isso pareça, treta, nomeadamente ao ex-treinador do sporting, pra mim, é a mesma musica, sentida igual. E isso só eu é que sei.

Anónimo disse...

Onde levas o cantaro. Junto ao peito ou á cabeça. Sei que tens algo. Deixa-o aqui.