domingo, fevereiro 12, 2006

A NOSSA FALA - XLVI - ABEQUILHA OU ABOQUILHA

O meu amigo, grande amigo, Ti Cá, que não é de aldeia - mas é de outra aldeia - , diz-me frequentemente:" às vezes a mimória drome". Figura de raríssima qualidade - é um poço de saber empírico - tem um modo de contar estórias que só Marceau (cá volto eu a Marceau) seria capaz de igualar: para cada palavra um gesto e, as mais das vezes, nem usa palavras: apenas reproduz mimeticamente o que quer dizer.
E O MAIS DECISIVO É QUE QUEM O RODEIA SABE DO QUE SE TRATA SEM SER PROFERIDO UM ÚNICO SOM. Verdadeiramente raro este castiço de 87 anos. (Com bem faça os 88 para o mês que vem!)
Ele, mais a ti Lianor, mulher desempenada, que corrige muitas vezes o nas suas deambulações pelas estórias das suas vivências, é outro poço de energia e , se bem que procure pronunciar assim comédado alguma palavras, acaba sempre por denunciar a linguística de orelha: um BARBECUE é um bórrocu, uma tupperweare é um tapué, um bacorinho é um bacrim e por aí fora...
Mas isto tudo vinha a propósito de a MIMÓRIA DRU(O)MIR... Pois. ..
Se calhar, a maior parte dos que me lêem, não sabe nem nunca ouviu falar da GRÁFICA DO OUTEIRO, onde os manos João e Domingos Alguitarra eram os tipógrafos e o inolvidável Padre Zé Pedro o mentor e tutor; se calhar, poucos se lembram de um rancho folclórico, capitaneado pelo excelente bailarino e cantor, apesar de coxo, que era o ti Zé Soalheiro, alguns, porventura, ainda se lembrarão das festas das bonecas em que a estrada com alferes Rei, a lagariça com os Menas, o oiteiro com o já referido Zé Soalheiro e mais o sr. Joaquim Vicente, barbeiro e médico artesanal, o cavacal com Machos, Pitincouros e Freitas e o bairro novo com Albardinhas, Chquim modas e Ave de Rapina, disputavam entre si a glória da melhor boneca e dos rosmanos mais cheirosos. Aquilo é que eram noites assim comédado!
O maralhal corria as festas todas e o comum entre elas eram sempre as borracheiras, que os cântaros do vinho não faltavam nessa noite.!Outros tempos.
Afinal, contrariando o meu querido ti Cá "a mimória no drome!"
Quando eu andava com aquele mais que famoso e conhecido carrinho quadrado a transportar bilhas de gás, sacas de ração, milho e o que mais fosse, logo por essas seis da manhã (ainda hoje, a essas horas ou até antes, quem for de fora e se aproximar de aldeia, se observar com atenção, há-de reparar numa espécie de névoa que cobre os telhados, por esta época do ano e até aí fins de Abril, conferirá a verdade inabalável do ti Cá: "é o povo a fazer a miguinha da batata...") E era!
Quando abria o trinco da porta - àquela hora já o gado estava acomodado e as portas já não estavam fechadas à chave - chamava: «Ó CHQUIM!» " Quem vem lá?- entra homem: Teu pai é chapado, põe-te a cabanir da cama logo cedo: Já comeste alguma coisa? " «papei dois figos secos e um bolo de leite,» dizia eu. "Assim no vais lá...um home quer-se com génio...e virava-se: eh! cachopa! traz aí uma planganita com uns feijõezitos e um naco bom de pão mais uma çabola! "«ó tchquim inda é cedo!». "A gente pra beber um copo tem sempre que meter uma abequilha, cassenão no se aguenta: metes três colheradas de feijão e bebes uma lata ficas pronto pra malha! " A lata era realmente uma lata. Tinha uma asa também de lata, normalmente obra de Zé Pantelhão e levava 4/4 de litro. Era obrigatório emborcá-la de uma vez...
Pelo menos na casa do Chquim Modas...
Prendia-se-lhe um pouco a língua, mas andava ligeiro e era sempre o primeiro a despejar a litrada: "Viste? é assim. Podes beber as que quiseres mas sempre inteiras e sem parar. A isto é que eu chamo uma directa."
UM LITRO DE VINHO ÀS SEIS DA MANHÃ COM UMA MALGA DE FEIJÃO GRANDE ENCARNADO UMA FATIA DE PÃO E MUITA AZEITONA.Um veneno era o que era.
Dizia o Chquim Modas que na aldeia eram poucos os que eram capazes. Ainda o acompanhei uma boa meia dúzia de vezes. E ele:" és valente catano. És dos bons. A gente nunca se agacha. Se os outros são capazes, nós tamém."
Era uma filosofia bruta, de difícil concordância, mas, documentada ao vivo, não dava hipótese:" a gente com uma aboquilha bebe até cinco litros!". E eu : «Ó Tchquim, pior ca nós só o Zé Moreira, ali dos cucos, que com uma azeitona bebe um almude!» E ele: "eu a raspar um caroço de azeitona despejei cinco litros." Rematou com esta:
"Ficas a saber: a gente para se aguentar a trabalhar, a beber, a comer, a fazer o que quer que seja, precisa sempre da aboquilha! A mim sem abequilha nunca me vês beber. E mais:não bebas nas tascas; bebe sempre do nosso. O vinho é medicinal: de verão refresca o corpo e de inverno aquece a alma!"
Que havia eu, cachopo ainda de voz em falsete, contrariar, face a uma argumentação destas? O importante é a abequilha.
Ainda hoje tenho este hábito, mas não com o alcatruz do Chquim Modas: quando se bebe um copito de prova, pincha-se sempre algo. É a aboquilha. Podeis chamar-lhe mata-borrão, tapa, pincho, acompanhamento, côdea, entretem, raspa, calço, é tudo o mesmo: o que é preciso é fazer a boquinha para o sangue de Cristo. Mainada.
Logo vos voltarei a falar da gráfica, dos Alguitarras e do Zé Soalheiro.
Com uma abequilha e um copito do bom, depois de uma sesta assim comédado, pode ser que a memória no druma e a estória surja!
Ide aboquilhando enquanto esperais...
Deixo-vos outro XXXXXXXXXXXXXXXXXXXIIIIIIIIII.

8 comentários:

Anónimo disse...

Se for logo de manhãzinha, se calhar é o mata-bicho. Isso de matar o bicho é curioso. É que eu ainda não percebi se é o que se come ou o que se bebe que é fatal para a fauna. E afinal onde é que se aloja o bicho, qual o seu habitat natural? É um parasita? O bicho é comum a todos ou é privilégio só de alguns? Todos têm um bicho do mesmo tamanho? Enfim, estas são algumas questões que deixo no ar e que gostaria de ver esclarecidas por algum de vós que seja mais entendido na arte de bem matar o bicho.

Anónimo disse...

Pergunta pertinente. Primero, é necessario ir ao encontro, segundo, estár lá, depois destes sinaís todos, ser homem. Pois lá discute sse, não a melhor forma, de chegar ao Reino do Algarve, Vencer isso aos que querem manter as Princesas, só pra eles e tem várias, mas saber, como lhes dar a volta, para que voces sejam finalmente livres, como nós. Eu Sou maluco, só vejo um caminho, Sofro por vós há muitos anos, GUERRA TOTAL.É a MINHA Solução.

Anónimo disse...

Ninguem vos ouve, sequer falar, sois, pra mim uma irritação, não vos entendo. O maior crime islamico, acontece "com vosco" nunca vos ouvi. Quando fico nesta realidade, nem acredito. Como é possivel. Jesus Cristo. Será?

Anónimo disse...

Será politica, Europeia, será schengen, será o caminho da igualdade, será o casamento cristão, será mesmo a relativa igualdade, essa conquista, que tem calado esses crimes? Será que é muito longe, a revista live, foi há tanto tempo. Nós somos todos é uns bébe água. Essa ´que é essa. Qual é o problema há lá Mulheres? épa por amor de deus, poupa me. Pois é quem não pode não berra. Não grita, tem filhos, tem irmãs, tem familia. MEU DEUS.

Anónimo disse...

Fico só irritado, é só isso. Mentira fico estupidamente impotente. É grave.

Anónimo disse...

Será? só conheço o "Chornico" da Covilhã!

Anónimo disse...

O "chornico" cura muita coisa! Mas a área supracitada, que eu saiba ,ainda não! Tem lá umas ervas milagrosas para o reumatismo e as dores musculares, mas a infertilidade não consta do currículo!!!! (ainda não)

Anónimo disse...

Esquece, lá isso. Duas gajas dispostas a ir como enfermeiras a passar uma temporada no Irão por exemplo. Ou não. Podia ser em freixo de espada á cinta? sem ajudas de custo. Ou melhor ainda, eu não sou enfermeira. Ou ainda vai p´ro, e vivo na europa. A gripe das aves preocupa-me máis.