quinta-feira, abril 13, 2006

A NOSSA FALA - LIII - ZARANZUM

A Páscoa está à porta.
Com ela vêm as festas populares, manta no chão, pastelinho de bacalhau, frango corado, arroz de miúdos, salada de alface, ovos verdes, pão-de-ló, azeitonas retalhadas, queijo, tinto com fartura e pão cozido em forno a lenha, sem fermento mas com o velho crescente - ora arrecadado da cozedura anterior, ora, mais fresco, requerido que fora da vizinha ou amiga que cozia ontem e eu amanhã-.
Que pensais vós? Era mesmo assim. Até mais: algumas vezes fui eu com tenaz na mão ali à casa da ti Antónia Costa , onde agora é um café e antes fora a casa do Carradas que matou o Vigura com uma gadanha (das de agadanhar, nanja daquelas da sopa, também chamadas de conchas) - modernices - , fui eu, dizia, de tenaz na mão, a pedir uma brasinha com que se ateava uma pinha e logo a ala com agulha de giesta ou vide bem seca: assoprava-se com toda a força, que, abano, ou não havia, ou, não convinha, porque espalhava a brasa e era perigoso. A pinha ateava - ou a giesta - e pronto! poupava-se um fósforo. Assim mesmo: poupava-se um fósforo (que ao tempo se chamava pálito). Não era como agora!
Que vejo eu? Arreparai comigo: a malta é agora mais banhada do que nós éramos - não quer dizer que seja mais asseada - ; tomam banho com água do esquentador, quase a ferver, nunca fecham a água e demoram quase uma boa meia-hora com a água a cair-lhes no lombo... Coisa impensável no meu tempo de púbere/adolescente/jovem: aquecia-se no fogão a gás, ou antes, nos velhinhos fogões a petróleo, desentupidos por agulha com arame simétrico, muito fininha e haste de lata reles, regulador de entrada de ar no bojo e êmbolo de pressão na lateral, encimado por uma espécie de trempes encaixadas em orifícios com o feitio de pé de galo e uma grelha que permitia que nos recipientes de diferente diâmetro aproveitassem ao limite o calor proveniente da combustão que não era instantânea, já que, antes, se tinha de deitar numa espécie de patena, um pouco de petróleo azul, que aquecia a cabeça do fogão e só depois é que, quando estivesse ao rubro, se fechava a entrada de ar e se dava à bomba para que o fogão desenvolvesse. O regulamento era feito pela abertura que permitia a entrada de ar. ( Vistes bem o tamanhão deste período ?) -Era assim que escreviam o Alexandre Herculano e também o Imannuel Kant-.
Quem tinha dois, fazia um figurão: nas festas da Srª do Almortão, em Idanha-a-Nova, levava um e isso até possibilitava a feitura do caféi, em pucheirinho de barro, areado para a festa, e assentava com tição, roubado às brasas da assadura do pito ou da entremeada, atirado ao rubro para dentro do pucheiro.
Espetava-se-lhe uma dose de redina bagaceira, rija como um corno, davam-se dois arrotos, as mulheres ficavam arrumar os cestos e a malta ia correr as tendas. Olarilolela!
Casais a percorrer tendas de festa de braço dado era coisa pouco habitual.
Compra obrigatória era um colar de pinhões atravessados por uma linha enfiada em agulha fina. Páscoa sem amêndoas também não fazia sentido, só que, às vezes os velhotes compravam das mais baratas, espécie de bolas redondas com açúcar por fora e muita farinha por dentro: uma purga era o que era.
Havia ainda as santinhas feitas de uma pasta açucarada com a imagem da santa colada e que se comprava junto à porta da capela. Vinha suspensa de um baraço que se punha ao pescoço. Outras compras não vêm aqui ao caso porque já estão poluídas das modernices...
Agora vai tudo de carro ou de camioneta mas antigamente não era assim: a malta preparava o jerico com manta nova por cima da albarda e entre as duas - a albarda e a manta, - metia-se uma pouca de erva meia murcha que serviria para a merenda do animal, regra geral bem desaguado em casa com farelo ralado em caldeiro de água limpinha. Por cima, os alforges em cujas bolsas se metiam as iguarias para o pasto dos maganos e evidentemente cinco litros do verdadeiro. Os mais abonados, com carroça, engalanavam-na com mimosas e outras flores garridas e lá iam a cavalinho sentados no banquinho atravessado. A maioria ia a pé.
Parava-se em sítios estratégicos, tocava-se o pífaro, o realejo, um armónio ou concertina, uns adufes ou pandeiretas, às vezes até umas carchanolas, passava-se a borracha pela malta, dançava-se uma moda ou duas e retomava-se a marcha.
Chegados à festa, procurava-se uma azinheira, oliveira ou sobreira, juntavam-se os familiares ou amigos, punha-se a erva ao burrito atado com rédea meia larga e ... ala para o arraial!, visita à capela, esmola na caixa, acendimento da vela, e... tasca ou tenda até à hora de missa.
O almoço só depois desta e da procissão.
Depois do almoço, com a saudável partilha dos petiscos e intercâmbio entre a vizinhança mesmo que não fosse conhecida, mais uma volta às tendas, arrumar a trouxa, mais um copinho para a assossega e volta para casa.
Os netos esperavam os avós e alguns mais brincalhões atiçavam a canalha:" deixa-te aí estar sentadinho que o teu avô passou pelo curral a deitar a viandita ao bácoro e já te traz a prenda"; o garoto: «sabe o que é?» « é um zaranzum atado numa guita; zune como a puta que o pariu; zune mai ca um enxame de abril!» O garoto corria para a mãe todo contente: «ó mãe o avô traz-me um zaranzum atado numa guita! «Rais o palirem, atão tu inda cais nessa? tu no sabes, meu cagão, que um zaranzum atado numa linha é uma tábua com um buraco presa a um baraço das sacas?»
Lá se ia o contentamento do garoto... Era assim.
Agora, boa boa, foi a do velho Refe que, ao chegar à festa, encontrou o seu Mário deitado no chão e sai-se com esta: «Eu cando vi o mê Mário no chão logo disse: ou ele caíu, ou alguém o tombou! Com toda a certeza, ele sozinho no era capaz.»
Grande lógica esta do Tonho Refe.
Não ajudava a ponta dum corno na preparação da merenda para as festas, mas quando lá entendia que estava na hora da abalada, mostrava má cara, ralhava e, invariavelmente, saía-se com esta: « Não há nada como o combóio: quem está, monta; quem não está, fica. Mulheres dum corno tanto demoram!
Desgraçado foi ainda o Vale Quem Tem que prometera ir de Monsanto, donde era natural, até à Sra da Póvoa, sempre de mãos postas e sem falar. Não lhe passou pela cabeça que podia precisar de mijar. E precisou...
No ano seguinte a mesma coisa, mas agora já podia falar porque essa parte da promessa já a tinha cumprido. Sentou-se nas guardas da ponte a chorar e a Prazeres viu-o, assim a chorar e precurou-lhe a razão: «já o ano passado deixei de cumprir a promessa por via de uma mijadela Prometi vir sempre de mãos postas e agora torna-me a dar vontade de mijar e se deslaço as mãos lá se me vai a promessa outra vez
Prazeres, condoída, olhou à volta e, não vendo ninguém que batesse com a língua nos dentes, disse: "desça ali em baixo que eu desaperto-lhe a portinhola e vossemocê alivia-se».
Vale Quem Tem nem queria acreditar! e a Prazeres: "quer ou não"?
Lá desceram e Vale Quem Tem suspirava de alívio e atreve-se: «já agora, dê-lhe lá uma abanadela que ele está habituado a ela»
Fosse como fosse Vale Quem Tem casou com a Prazeres. Sou compadre deles.
Vamos à festa?
Um XXXXXXXXXXXXIIIIIIIIIIIIIIII.

10 comentários:

Anónimo disse...

Tu não existes. Um XXXXXXIIIIIIII.

Anónimo disse...

Não me é possivel! Independentemente, do meu passado blogista, do qual ( esses tontos esperavam me arrependo ) tenho muito orgulho. E como estou a escrever,, e sou tonto, mudei de musica, lá se foi a conversa. O meu pai morreu no dia 25 deste mes sem chapeu, porque á pala dele e da minha santa mãe, teve seis, Cinco e uma irmã, a quem ele disse, trabalho dele, sejam honestos, teve quatro. Dez anos depois graças a deus, mais dois. Essa conversa de quatro, é tão bom, ouves aqui ouves ali. Quatro, de gente pobre, sempre a fazer pela vida com dignidade, mãe galinha, paí com QI. ( QI ), claro, sempre soube trabalhar, pri meiro no duro, depois subio, aprendeu a ver um copo de vinho, especial bebido, de jeito especial, depois sentiu de forma especial um jeito, que não batia certo! Depois soube mesmo. Um amigo disse-lhe. Ficou irritado, foi ali ao lado e fez contrabando de sapatos, não acontaceu nada, isso já me lembro. O zé trouxe o 25, mas antes já o tó e o fernando, me tinham ensinado, de tanto ouvir a toirada ou u, do outro fernando.

Moral da coisa, o tempo é tão pouco passa tão rapido, que tudo o que seja mais que. Viver feliz com os amigos é e eu compro a imortalidade, manhosa do inferno que começa no momento em que não tens ninguem, a falar contigo na tua sepultura. Pelo menos quando não está, mais ninguem, nessa útima casa.

Anónimo disse...

Passei hoje a bem dizer, o dia de hoje e a noite de hotem. n Ver5dade com o Karraio e o meu mano Vitor, logo não tem nada a ver. Sempre juntos. Boa noite. Uma cosa amizade, uma amizade. O único enjoado desde o inicio. O Karraio. Um gajo, com piada, não está certo. Depois em finaL DE NOITE lá está o pratitamem a clevar com ele finalmente na abaladissa. Porra. Preocupa-me mais a tua barriga cheia enjoada, que a minha bicha solitária. èpa deixa lá isso, Homem velho, mulher nova, filhos até á cova. Agora vê lá quem é que anda ai ó Surtudo. Já nasceste assim Nostalgico? Já somos dois ó Sortudo.

Anónimo disse...

Irrita, quem? quem acha que vive com ele de forma social, nomeadamente, detesto esta palavra, verdadee, Diz que Não!

Não tens coraguem de dizer p´ra! è isso? Eu paro. Juro. Paro. Claro que sim. Vai ser o segundo, ano. Já pra gajos, que mexem com o assunto,.

Anónimo disse...

>È a única coisa que te dá gozo, falta o L. P. Outro dia ligou-me ás 3 da manhã, não atendi. Estava a trabalhar, não ouvi!(M),deixou men. Eu era o maíor- tINHA lá dito porras. Humm. Tontinho. Diz que ouvi"o".

Anónimo disse...

Quem és tu, pratitamem, o dono do mundo? Ou és apenas impossivel de ler? bem no minimo, na melhor das circunstancias, devias ter cabelo, p´ra aguçar estes ces manhosos, Diz que não! Porra hoje diz que não.

Anónimo disse...

Tenho mesmo necessidade de escrever no Blog, aquele Blog, este blog, o Blog. Já está e já chega, estou bem melhor, matei o vicio.

Anónimo disse...

Algumas conexões, são atrozes, em carácter e a bem dizer em prazer. Não se escreve por exemplo, só por "gosto". Kassenão, "criava" um diário. O Lobo Antunes que me perdoe. Não sendo criativo, diria que independentemente dos leitores, muitos felizmente, HÀ UM tipo esse, que me disse, já passo á frente quando é o pratitamem. Era só o desabafo de uma magoa.

Anónimo disse...

A solidariedade, será porventura, uma das mais terríveis práticas, de auto estima, pela negativa. È necessário portanto estar atento a nós.

pratitamem disse...

Discordo com o anterior Post!? Não imagino, solidariedade sem auto-estima! Seria algo tipo, eu pra mim não levo o arroz "bastihs" portanto pra mim levo carolino pro saco da minha boa acção, ofereço aquele que eu queria, o tal "bastish"... Na verdade ele, o do post anterior tem razão é terrivel...
Abril 2018.