terça-feira, maio 30, 2006

A NOSSA FALA -LVII -ACADEJA

Já andáveis com saudades! Todos temos na vida momentos em que o lazer e/ou o prazer tem que ficar adiado. Foi o caso.
Em tempos num encontro com Fernando Namora a que tive a oportunidade de assistir, explicou ele que já tinha todo o livro escrito, faltando-lhe apenas a primeira frase e o título. A estória passava-se no Alentejo, mais concretamente em Pavia, e ele resolveu deslocar-se à vila para ver se se inspirava. Contou que não demorou mais de um minuto a arranjar a primeira frase e título: O livro é "O Trigo e o Joio" e a primeira frase:" a vila é uma rua". Nem mais. Podeis confirmar.
De repente, também me transpus para a curva do adro da nossa Igreja (que bem precisa de umas obras e, pelo menos, das paredes limpas e dos vidros substituídos, e....).
Olhei para cima na direcção de Aldeia de João Pires, e que vi eu? A aldeia como era quando eu era garoto.
Não havia café da Rosa, a casa estava a cair e o Zé Augusto é que a reconstruiu, ao lado onde é agora a casa do Chinchas, era a casa da velha Mona, cuja loja estava arrendada ao Fatela e era onde ele tinha o sal para as salgadeiras e outras drogas que não podia ter na tasca. Lá dentro tinha um poço onde eu ainda refresquei muita laranjada Cristalina e alguma cerveja, para além de uns garrafõezitos de vinho bem arrolhados. O largo, em frente, era terra batida com o talho do ti Zé Rolo e a tasca, na perpendicular a casa de alferes Rei, o homem das festas populares, ao lado da casa do Clube Fernão Lopes que tinha no r/c a barbearia, primeiro do sr. Joaquim Vicente e depois do Domingos Patanisca e Zé Maroco e, à ponta, a tasca do Zé Júlio.
Regressando à estrada -afinal a aldeia é uma rua, como dizia o Namora - passei pela casa da Conceição do Trem que vendia desde chita da tabela até bacalhau corrente e do graúdo, a tasca do fatela, o quintal do chquim pardalinho e menina aguércia onde se comia arroz de manjerico, e logo o do Zé Geadas hoje do Antonino. Em frente a tasca do Chico Miguel que tinha, pasme-se, quatro furdas de porcos coladinhas às escadas que dão, ainda hoje, acesso ao primeiro andar da casa e ao pátio, lá por cima. Logo após, o Tó Robalo e o largo do batoco com a paragem das camionetas. A casa do Carradas, hoje café, era da ti Antónia Costa e tinha por baixo o porco e a burra. Assim mesmo. A da esquina, da Pragana, tinha também um burro e na escadaria de acesso havia um buraco onde estavam as galinhas que andavam livremente pela rua. De vez em quando um carro passava e depenava logo metade da pita. Essa casa do Carradas tinha um balcão alto com laje no cima onde se fazia a descamisa do milho até às tantas. À esquerda ia-se para o cavacal e à direita para o outeiro. O largo do Batoco, onde agora está a sede do tribunal da má língua, tinha uma poça de água ao canto, por detrás da casa, onde o povo embacelava vides. A história deste baldio e da sua "requisição popular" ainda um dia aqui há-de ser contada. As galinhas = pitas andavam livremente por ali e nós jogávamos o pião, a bilharda, o pinoco, o malhão = burro, a esconder e a achar, ao fito, à raioula, ao espeta,... Duma vez ao filho do Zé Pantelhão, o Zé Inácio, que está em França, furei eu a bota com o ferro aguçado pelo ti Mné ferreiro, que lhe deixei o pé pregado. Levei uma malha.
À tarde, era ver as Gornhatas, a Espeta Figos, a Surreição, a mulher do Calça Defuntos, a Tonha Costa, a Nicas e as mais que por moravam por perto, vindas da rega da horta, ali chegavam e«gacha, gacha, gacha, gacha, !pnina, pnina, pnina, pipipipipi...Não sei como, mas as galinhas lá acudiam ao chamamento e estendiam uma passadeira da boca do poleiro até ao chão e as galinhas lá seguiam atrás delas, para o descanso nocturno. Era a ACADEJA.
Quando a semente proveniente das eiras era lançada para os arcazes era a Acadeja. Se te pediam para chegares para perto de quem pedia um objecto distante, do tipo: "ACADEJA-ME aí o foição! era ainda a acadeja. Se te pediam para esconderes o sacho no segundo rego da leira do feijão verde era :"Não te esqueças de acadejar o sacho no rego".
Como ficais agora cientes, esta palavra era polissémica. Maináda!
Mas a estrada continuava: o fechamento do largo da paragem das camionetas era feito pela casa dos pais dos que aqui escrevem e, seguindo acima, vinha o João rela e o João robalo com capoeira e coelheira mesmo ao lado, chegadinhos à oliveira grande que já não o é e que tem a ver com o nosso pratitamem. Em frente, quintal e casa de Julho Casqueiro ou Aspirante, Chico Rolo, Maria Esteves, à esquerda, quintal do Ribeiro e casa do sr Brigadeiro, hoje de nosso Fernando, com a horta da madrinha Angelina e casa do velho Argentino, estrada das Águas, quintais do Carradas e do regedor primitivo, palácio do tenente Birra em frente ao Chico Sarapião e chquim Área..Galinhas por todo o lado e à tarde lá vinham as mulheres, Tecla incluída, mulher do ti Mnel Ferreiro, artista maior de relojoaria e ajuste de aros em rodas de carroças e carros de bois, e: "Pnina, pnina, pnina, gachagacha, gachagacha! Todas acadejavam as suas pitinhas, não raro sem lhes meterem o dedo a ver se o ovo do dia seguinte já vinha a caminho...
Chegamos à curva das antigas escolas, um enorme sobreiro, o forno colectivo, o quintal e casa do professor Tanganho e D. Carminda frente ao Ferro Velho ou Forelho, Zé Verniz, e grande Celestino, paredes meias com o ti João Toscano e Penajóia. Era assim a estrada da nossa aldeia.
Havia apenas duas pessoas que faziam desviar a malta da estrada: Padre Zé Pedro, no seu ânglia e Dr. Landeiro no seu Peugeot. Aí o grito não era ACADEJA, mas ARREDA!ARREDA!ARREDA!
Outro dia logo vos digo como era a estrada do adro para a vila!
Hoje ficamos com este jogo, mas não resisto a que, como estamos em tempo de pesca, vos dediqueis a comer, comédado, uns peixinhos de água doce:
primeiro pescá-los, não destripar nem escamar, acender um bom borralho de esteva ou giesta, queimar a grelha, arranjar uma plangana com água da ribeira onde o peixe se pescou, salgar essa água a gosto, depois um pratinho onde está um molho feito de alho esmagado à bruta, azeite e vinagre.
Eis a sucessão:
1 - aventa-se com o peixe para a grelha, se cair para o borralho não faz mal
2 - vira-se para assar dos dois lados
3 - tira-se com uma sovina
4 - atira-se para a água salgada
5 - recolhe-se e passa pelo prato do molho
6 - põe-se em cima da fatia do pão
7 - papa-se.
Se verificardes bem, aí ao quinto peixe, a água fica quente e o sabor do peixe melhorará substancialmente.
Vantagens: a carne do peixe solta-se das espinhas, toma-se convenientemente do sabor, saboreia-se como pertence, não se suja mais louça - a não ser um copo se não quiserdes beber da borracha ou directamente da garrafa - .
Experimentai!
Ensinamentos de velho, que comigo, acadejou muito peixe na barriguinha.
UM XXXXXIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII!

12 comentários:

CanisLupusSignatus disse...

ipsis verbis

Anónimo disse...

Parabens pelo belo texto, e pelas belas recordações da nossa ALDEIA, salute para todos os XENDROS

Al Cardoso disse...

Ate eu acadejava alguns desses peixinhos.
Um texto sublime e, rica "mimoria"
sim senhor.

Um abraco beirao.

Anónimo disse...

Mainada.

Anónimo disse...

Não mencionas changoto mas esse peixinho deve ser pescado na baságueda e se calhar, comido à sombra de um freixo junto à ribeira. Eu alinho. Era bem capaz de acadejar uma dúzia de bogas no meu bandulho.

Anónimo disse...

eu faço a tradução para os mans de Lisboa-
Changoto man !tu na avisas kessa jola deve ser pescada na pia à sombra , na esplanada longe do griz e com garinas boas meu ..Daaaa. Eu tou nessa, era meia grama delas aqui pr´o je Fonix.

Anónimo disse...

Belas fescatas se faziam aí por Aldeia!...(e fazem ainda, a fazer fé no que li...)

Anónimo disse...

Fiz um raide, pelos Blog's da zona. Depois não sei por quê, ficou-me na id+eia, a Margarida Pinto, mais o artigo do jornal americano e a visão desse jornal ou a visão da Margarida e depois os textos do Karraio e do Changoto ou as suas idéias de escrita, mais isso, esses temas genuinos e sentidos e esses outros blog´s e será que havia necessidade e eu tenho que falar nisto? Sim Sim outro dia á séria. Fico sentido claro que sim. Não havia necessidade. Não se vende na farmacia. ou se tem ou não. È como os carros sem vidros electricos. Um dedo não chega.

Quase me esquecia de dizer. Dessta vezz tammbemm gosstei muuinnto. Amigo Changoto. Um OK pra ti, vê lá se pioras, andas a ficar chato, tudo o que é sempre muito bom deixa-me irritado, qualquer dia descubro-te o plágio!

Anónimo disse...

Melhor dizendo, o plagiador.

Èpá? é que não havia necessidade.

Anónimo disse...

Estava eu a ponderar se lhe dava cinco ou dez dos meus euróis, lá á Romena, que schengen, não lembrou, nem esse outro paìs, não interessa. Dei-lhe cinco, não queria desatou a chorar pela quarta vez, 27 anos, filha de dois anos legal e marido noutro país, e ficou-me ali, como todos os dias, quase nos braços. Depois aceitou, juro porque era eu, as pessoas tem dignidade. Doi tanto. Caguei nos 5 euros, não cago na dor que "fere" a dignidade. Esses gajos ou esse gajo que hoje foi detido pela bófia, do pn ou coisa do genero, devia passar o máximo da pena Portuguesa, mas era em campo de concentração. A pão e agua. com imagens do Holocausto, permanentemente sobre a sua carecinha. Alguns são espertos, sejam úteis. Muito dificil. Será que não há qualquer coisa dentro de nós no limite na fronteira, entre o mal e o bem!

Anónimo disse...

Acho, que o Changoto, não leva a mal, esta insónia, nem este abuso, a RFM também é respons´vel, sim por via da musica. Mas o sossego ás vezes, não é facil e isto liberta. Saber que estão ai é uma terapia, eu sei que tu sabes amigo Lapaxeiro, o Karraio e a multiplos de pessoa no feminino também sabe, Quase os amigos todos, faltam alguns, que gostariamos, mas apesar de idade já não dar pro imortal, ainda estão todos a tempo, digo eu?

Tudo gente a caminhar prá andro ou menó! Isso pode de alguma forma explicar faltas recentes, mais esses que ainda não tiveram a coragem. Não doi nada, não custa nada. Basta estar disponivel, pra conversar, ouvir falar ( ler ) como foi, de forma sentida, acesso aos ficheiro do passado, de forma ainda mais isenta e mais democrata do que na torre do Tombo! È esta a minha opinião, é aquilo que eu sinto. Os casulos, desde que não seja "Cáxemira", acho impossivel! Não me parece fazerem sentido, è só a porra da minha vontade!

Anónimo disse...

Uma coisa é a gente recuar, tipo esta musica, que me leva a Pedrogão Grande 1998. Outra é hoje sentir amizade em relação a esse gajo que sou eu. È bom a sério, é bom. Não é optimo mas é tmn. As piadas parvas ( há anos que penso nisto ), tem esse valor intrisseco, são tão chatas, que nos levam a reagir, fazem bem á nossa autoestima? ( Ficamos condescendentes )Há pessoas que gostam! Juro. Eu não curto, apanho cada seca. Mas lá está essas secas, ás vezes são a nossa reserva federal, Estou a falar do Marco, eu é que apanhei algumas secas dele, logo eu é que sei, certo.