terça-feira, fevereiro 13, 2007

A NOSSA FALA -LXXVII - CASCABULHO

O velho professor Leitão era assim uma espécie de professor Pardal que passava a vida a tentar materializar ideias: famosas são as suas tentativas de arranjar uma máquina de podar macieiras, pereiras e outras árvores frutíferas a partir do chão, sem recorrer a qualquer escada...Para o efeito serviu-se da vara de um guarda chuva na ponta do qual ajustou, num eixo adequado, uma faca de cozinha que era movida contra outro gume fixo fazendo como que um efeito de tesoura, puxando um cordel; arranjou uma engrenagem que punha uma motorizada a tirar água dum poço; arranjou um depósito de tinta para as canetas de aparo da escola, aquelas com cabo de pau (ainda há quem se lembre, com certeza), evitando assim que se estivesse sempre a molhar o aparo no tinteiro de tinta, em cerâmica branca, que havia em todas as carteiras; mais inventos ainda fez mas de menor monta. Coiote Pete, malino, bardina por excelência, e que não era aluno dele, propôs-lhe que inventasse uma espingarda que matasse os coelhos nas curvas. "Dá-me tempo!, dizia o professor... Coiote disponibilizava-se para tocar o fole da forja do ti mné Ferreiro - outro artista que um dia aqui há-de ser figura de proa - a fim de dar têmpera ao aço dos canos da espingarda...
Por esta altura, estamos a falar dum Verão dos velhos anos sessenta, três eram as preocupações dominantes do professor Leitão: a fundação do Clube Fernão Lopes, a cuja Direcção pertenceu largos anos, juntamente com Chico Grande, alferes Rei e Chico Sarapião; a invenção de uma engrenagem de tracção manual que auxiliaria o Réu-Réu, Tum-Tum - velha arrastadeira que pegava de manivela com gasolina e depois consumia petróleo, de marrícula AC-01-01 - por isso lhe chamávamos o Antes de Cristo- a qual (arrastadeira) nas subidas se ia um pouco abaixo, tanto mais que chegava a levar ranchos de 10 e 12 pessoas. Ora, se ele conseguisse adaptar um eixo supletivo de uma roda dentada, semelhante à pedaleira das bicicletas com desmultiplicador e carreto numa barra fixa no interior do Réu-Réu, aí, quem ia dentro, podia auxiliar o carro nas subidas; o obstáculo maior era que o eixo tinha que vir por fora e depois, tal como na engrenagem das rodas dentadas das noras, tinha que fazer um ângulo recto, o fazia perder muito da força gasta por causa do atrito: uma dor de cabeça que acabou por nunca ter resolvido, tal como o desafio de Coiote, porque entretanto lhe chega um AVC que se não o liquidou logo, o deixou claramente diminuído; a terceira espinha que lhe acicatava a cabeça, era realização das festas populares.
Como muitos sabem , por via de regra- e mais ainda naquele tempo- a festa do padroeiro das aldeias coincidia com as festas do povo. Ora o senhor prior dizia que se era o santo - no caso S. Bartolomeu, a 24 de Agosto - que dava o nome à festa e garantia a afluência dos xendros à Aldeia, então os festeiros tinham que pagar à fábrica da Igreja metade dos lucros que obtivessem. Aí é que o professor Leitão não estava de acordo: Quem tratava da papelada toda, quem contratava os artistas, quem encomendava os produtos bebíveis e comestíveis, quem arriscava no fogo aéreo e preso, quem preparava o recinto, quem garantia todos os serviços, quem tudo pagava e quem tudo assinava tornando-se assim o responsável pelas ocorrências, não era o senhor prior, mas o professor Leitão.
Disse-me um dia: "tu achas direito que o padre leve sem fazer nada metade dos lucros da festa?" E eu:« ó Senhor professor, isso é fácil de resolver: faz a festa antes da do Santo e muda-lhe o nome» ; e ele:"não me tinha ocorrido isso...e que nome lhe davas tu?" -FESTAS DA DESFOLHADA, atalhei. e ele "é que é para já" E foi. Durante anos as festas levaram este nome: Festas da Desfolhada.
Agora perguntais vós:Como é que este título te veio à mona? vá lá , perguntai! ( isto até parece o visualismo do patrono do Clube dos Xendros -Fernão Lopes -). Eis a resposta:
Aos meus pés estava um CASCABULHO que devia ter caído da saca para onde ao fim dos serões, nas cálidas noites de Verão, a vizinhança se juntava na laje de uma escadaria que havia no largo das camionetas, onde hoje é a casa do Carradas, e serviu de café até há pouco, e que, ao tempo, era da ti Antónia Costa, viúva do Agostinho Ratado, a qual ficava pertinho da lâmpada de iluminação que pendia da parede da casa. Via-se bem a maçaroca e quando, para separar o grão de milho do CASCABULHO, nós esfregávamos uma maçaroca contra outra, em fricção forte, ao fim ficávamos com o CASCABULHO que atiávamos para uma sava e depois era deitado na furda ou no palheiro do burro.
Expliquemo-nos: a maçaroca está revestida pela camisa no cimo da qual aparecem as barbas de milho - de que garoto que se prezasse fez uns cigarritos embrulhados na folha escrita do caderno da escola- ; era pela abertura do cimo da maçaroca que se metia a lâmina de uma navalha ou, mais frequentemente, um pau aguçado numa das pontas e se rasgava a camisa ao fim do que se esnocava a maçaroca que depois é posta a secar na eira. Os que tinham muito, malhavam, os mais pobres, juntavam-se e uns para os outros, ajudavam-se na descamisa (eles diziam desencamisa). Júlio Dinis, na Morgadinha dos Canaviais, chamava-lhe DESFOLHADA. Ora eu tinha lido o livro havia pouco tempo e vai: Festas da Desfolhada.
O que resultou dum CASCABULHO que não ficou guardado na saca!
A vida é mesmo feita de pequenos nadas e já uma vez pus esta questão a um dos maiores comunicadores de sempre da Televisão Portuguesa - o Maestro António Vitorino de Almeida- e ele concordou dizendo que se quando passeava entre as árvores do Campo Grande o banco debaixo de uma vetusta árvore estivesse ocupado e ele não se pudesse aí sentar, o seu passeio ficava estragado.
Foi aí também que aprendi a melhor máxima de vida: "se uma coisa merece ser feita, então muito mais merece ser bem feita"
Bem feita! fico-me por aqui.
P.S. - As minhas desculpas pela pixotice de não atinar logo à primeira com as exigências do Google!

14 comentários:

Anónimo disse...

A ideia que retive da lide da desencamisa (contada, não vivida) é de que os alacrários gostavam muito de se aninhar nos molhos de milho deixados a secar no campo. Coitado daquele que por azar tivesse um encontro imediato de 3º grau com um desse bichinhos. Uma vez assisti, e nunca mais esqueci tal imagem, aos gritos de dor de uma mulher que morava no cimo da Lagariça e foi picada por um damonho de um alacrário. Todo o santo o santo dia ela berrou e ouvia-se à entrada da Lagariça. Ainda anda por lá essa mulher, mas hoje já não desencamisa.

nabisk disse...

Com catano, onde vão bomcês descobrir tanta imaginação. Arre porra qué dmais.
Uma tanganhada e bem aja

Anónimo disse...

Também ouvi que um sapo aberto ao meio (ou seria uma rã?) e colocado em cima do local da picada do alacrário também tinha a sua eficácia no combate à dor. Nunca experimentei...
Na versão do nosso António Pedro de Vasconcelos, "O sapo e o alacrário: amor interdito".

Anónimo disse...

O cascabulho também serve, ou servia, para estancar o sangue que jorrava do buraco aberto pelo matador na matação. A propósito de matação, ó changoto e karraio, ainda não falasteis aí das chicas.

Anónimo disse...

Desencamisar, maçaroca, cascabulho, "alacrários"!... Haviam de ver. Se bem me lembro, lá por finais dos anos 70 do séc XX, a velha "Chicorrela", que tinha uma fazenda lá para cima, a caminho da terra dos cucos, foi mordida por um "alacrário", enquanto desencamisava milho, mesmo junto da passarinha... "Cais narina de vaca, cais sapo, eram berros do C... O que lhe valeu é que nesse tempo já havia injecções na farmácia, o que lhe reduziu 24 horas de sofrimento a 1 ou 2. Aproveito para Relembrar aqui a memória de um saudoso Amigo de Infância: O Zé "Chicorrela", falecido também pelos principios de 70, num acidente de bicicleta no final da descida de Penamacor.

Anónimo disse...

Não me cheira, será que posso entrar?

Anónimo disse...

Porra t´va muito dificil, normalmente os bebe agua tem alguma dificuldade, em admitir, qualquer coisa que ultrapasse, os sempre activos 10, neuronios, ´ fica aquela magua, ás vezes um choro, a´s vezes pena, AZAR! As amizades, puras, tem validade e até subcrição, digo eu, não vale cartão de credito, nem nada, tipo mesmo nada, o que vale não se mede, ainda não foi inventada essa maquina, presumo, ai dificuldade, AZAR, nem tudo na nossa curta passagem, tem que ser mau, não tendes amizades assim, isso é mau!

Anónimo disse...

Sò há dois tipos de amizades, as minhas e as outras.

Anónimo disse...

como é se tira, assim aquele`´ lá da sbcrição, não entendo?

Anónimo disse...

Assim já tenho alguma dificuldade, em ficar nervoso, mormente, as duas horas que demorou, assumir o meu primeiro com.

Anónimo disse...

Ele Há uma coisa, que me tem dado azo, a intrepertações, terriveis, na verdade, nunca me passou pela ideia, que a Aldeia ainda tivesse essa possibilidade de descer mais. Penssei, eu, na verdade, não fosse eu quem sou, Não fosse eu amigo, de quem sou, não tivesse eu os amigos que tenho, E o Caos, podia começar aqui neste Blog. Tipo essa inveja, tão azeda, mas por ventura, tão amarga, que me faz estar aqui a esta hora. Querem um conselho do pratitamem, Não se metam, com um gajo com telhados de vidro, desde que nasceu. È só isso.

Anónimo disse...

Chegou o momento, da minha estupidez pura. Tipo eu ás vezes. Os Americanos o quê amigo Lapaxeiro? Percebi népia! Ò falas a minha lingua, ou então estás calado, estamos quaze a chegar á primavera, não sei como é que anda ai o tempo, mas aqui na beira baixa, já sinto o fernezim desse degelo do Carnaval, melhor é sempre depois, sem fitas nem papelinhos. Esse é o carnaval de que eu gosto. Aquele que me faz rir, nos piores momentos. È esse o Carnaval que eu gosto, é esse o meu Carnaval. Aquelas piadas, que vendes a custo zero, prós amigos, esse sentido de humor, que nunca tive coragem, de pedir emprestado, talvez um dia! O meu sonho se cumpra, uma peça de teatro na nossa Aldeia. Nós os protagonistas. Ou isso. ( assim vão ler! ), assim sendo ou não, epá, isto assim sem as tuas piadas, já não tem piada nenhuma. E eu tenho mais que fazer e assim não brinco. è só isso, acho que já disse.

Anónimo disse...

Nem sempre o rio corre a gosto. Ola não era olá era olha, vês, detestava, não me lembro de nada, vá atão, detestava o meu prof. de filosofia, aprendi zero. Falo do Ribeiro, claro. Gostava um dia de saber aquilo que os meus colegas, ficaram a saber. Agora doi. Não fiz lá o 3º periodo? Não sei de doeu muito, eu fiz por mim, acabei tudo com onze. Tinha 889 segundo periodo, ve lá. Juro-te que quando entrei prá Autonoma, estudei, quatro horas, 15 anos depois, fiz exame nacional de História, tive 16. Quem me dera ter tido a sorte de ter um prof, de Filosofia, assim, como tu, podia muito bem Dr. Ou se não tivesse tido no ciclo aquela coisa que me deu matemática, podia ser médico? Há um gajo da minha turma 12º que é prof, de filosofia, Gajo porreiro, mas isso a mim não me diz nada, neste contexto, quando entrei para Direito em 97, Filosofia era 11, Resumindo a minha opinião, Tu devias ser pago a peso de ouro. Na verdade, não devia dizer isto, mas cago mesmo na matematica, Agora ter tido um prof. de Filosofia como tu, devia mesmo com 19 anos, ser uma delicia. Só que isso já lá vai e pedir uma endemenização? ao T ribeiro, era caso perdido. Hoje perguntas ao Henrique, á Lena e outros, Zero, nunca gravei nada na pasta temporária, ou era no disco rigido, quando interesse, ou não gravava, e é ai que tu entras, logo ainda bem assim sendo, estou disponivel, aprender é a minha sina.

Anónimo disse...

Será que posso rir e chorar, assim, acho que sim, raisparta, ( não sei se disse bem ), essa gadanha, que vem antes de tempo e de sorte limitada, ele há cosas...