domingo, setembro 15, 2013

A NOSSA FALADURA - CCI - MO(U)(T)CHO -

 O moutcho é a  ave da sabedoria. O saber só se adquire bem tarde. Desde logo porque é preciso distinguir entre saber e conhecer. Não me vou alongar hoje nesta distinção, mas creio que basta dizer-vos que eu sei que Nova Iorque existe mas não conheço patavina dessa cidade. Adiante, pois. 
Não foi sem razão que o grande Hegel (concorde-se ou não com ele na vastidão filosófica) disse que " a ave de Minerva só levanta voo ao entardecer". Metaforicamente deixa claro que só tarde, já na velhice, o saber verdadeiro acontece. O povo, no seu saber de veterania mais que muita faz a pergunta e dá a resposta: "porque é que o diabo sabe muito?" - Porque é velho!"
Não sendo ainda um maduro que possa considerar um motcho no saber, detive-me  - os velhotes já vão tendo tempo para tudo - detive-me, dizia, a pensar num pormenor que passará longínquo àqueles, que num afã sem sentido, têm pressa para tudo e nunca têm tempo para eles. Resolvi, pois, ter tempo para mim e, depois, contar-vos o resultado desta ruminação intelectual.
Fala-se muito em consciência, mas a grande maioria de nós solta a palavra da boca como se a tivesse aprendido como o papagaio. Reproduz, imitando, sons, mas não sabe o que diz. Muito simples: não tem consciência do que diz. Por isso, às vezes, diz o que não sabe e outras vezes, nem sabe o que diz.
Decomponhamos a palavra, para a lermos na sua essência: cum+ scientia, donde derivou para o português com + ciência e, posteriormente consciência. A preposição CUM indica companhia, parceria, mas também independência. Ou seja: a minha companhia não sou eu. É outro. Logo, aquilo que eu penso é outro de mim, portanto, diferente de mim, ou como queria Fichte, é um Não-Eu em mim. Entende-se assim que aquilo de que estou consciente não esgota a minha consciência, cabe nela, mora lá mas não a preenche. Significa então que o que está na minha consciência, não é a minha consciência. Tenho consciência de que estou consciente do que tenho na minha consciência, mas confundo o que lá tenho com aquilo que ela própria é. Vamos lá simplificar: a minha consciência é o continente e o que eu tenho nela é o conteúdo. É o mesmo que dizer que o que eu penso não é o mesmo que o meu pensamento. Não há conteúdo maior que o continente e, assim, quer a minha consciência quer o meu pensamento são sempre maiores do que aquilo de que sou consciente, ou do que aquilo que penso. É simples, não é?
Na verdade, CONHECER ( a scientia de que falamos acima) implica domínio, capacidade de explicação, previsão, controle,...Ora, o que se passa é que aquilo que habita a minha consciência nem sempre está nos meus domínios. Por exemplo, estou consciente da minha ignorância relativamente a muitos assuntos - basta que falemos do universo e de tudo o que dele é desconhecido - logo, eu não sei nada acerca do há para conhecer do universo, mas sei exactamente isso: que não conheço o universo. Ou seja, na trajectória do que nos trouxe até aqui, NÃO CONHEÇO, MAS SEI. Ou melhor: sei que não conheço. Talvez fosse então melhor que vivemos numa comsapiência e não com uma consciência. 
Vem-me à mente aquela famosa questão do que convencionou chamar-se METEMPSICOSE - a crença na transmigração das almas e, consequentemente a inevitabilidade da existência de outro mundo para além deste, que lhe seria anterior e se prolongará ad aeternum para além dele. Burnet diz muito bem, a meu ver, que não devemos falar de metempsicose mas de METENSOMATOSE, pela simples razão de que é a alma que migra de corpo para corpo e, em grego, corpo diz-se SÔMA e alma é que se traduz por PSYQUE.
Fica, assim, claro que nem sempre dizemos o que sabemos e muito menos aquilo que conhecemos. Volvamos à sabedoria popular: « o calado diz tudo». 
É um facto que os "velhos" sabem ouvir. Falam quando lhes pedem opinião. E que bom seria se os ouvíssemos num mundo como este que sofre de uma doença incurável : a opinionite. Todos falam sobre o que quer que seja, julgam-se autoridades em todos os assuntos, mas nem conhecem nada e muito menos sabem o que quer que seja. Vivem na ilusão do saber. Não têm consciência da sua ignorância, o mesmo é dizer que não conhecem quanto deviam estar calados. É por isso que o silêncio também é música e o saber ouvir é uma virtude.
Tal qual o moutcho que vira e revira a cabeça para todos os lados para não lhe ficarem dúvidas donde vem o som da presa que quer apanhar. E fá-lo sempre quando já não há barulhos perturbadores: ao anoitecer.
Não querendo ser um sábio sempre vos digo que tenho ciência dos meus limites. Por isso me fico por aqui.

XXXXXXXXXXXXXXXXXIIIIIIIIIIIIIIIGGRRRRRRRAAAAAAAANNNNDDDDDDDDDDEEEEE.

2 comentários:

pratitamem disse...

Foram sempre as duvidas que me disseram essa verdade! Ler o changoto é ler o sentido de quem muito sabe e aprender com tal sabedoria mal não seria! moucho um dia proventura, serei, pois tal leitura assim me encaminha. A sorte è de quem assim pode. Que prosa, tão linda Amigo! Que belo sentido tu dás ao destino fraco dos homens, transformando a miseravel existencia, em existencia sem nada de miseravel. Fazendo-me sentir, a mim que li, que ler aquilo que escreveste, me deixa tão feliz, porque ler aquilo que li. É tão profundamente aquilo que eu sinto e que queria assim tambem dizer! ès magnifico! Obridado por este momento... Senhor Professor!

pratitamem disse...

Errata!?: a ausencia de chapeus augura melhor tempo, assim com os assentos ao contrario envolvem uma velocidade muito acima! (este assunto não implica os Angolanos nem directa, nem indirectamente!...